Reflexões Para Quem Nasceu


Fiquei pensando por algumas horas sobre que dizer para o Dia das Mães este ano.

A minha mãe que mora na minha imaginação diria que não é preciso um texto complexo, que é só escrever de coração, que tudo que faço é lindo. Outra mãe que tenha na minha cabeça disse para fazer logo, deixar de enrolação.

Foi uma conversa na minha cabeça. Todos nós temos conversas que só ocorrem dentro da gente. São conversas que no final das contas são o mundo externo que existe no multiverso de nossa mente.

Podemos usar essas conversas para nos conectar positivamente à nossa origem. Viemos de um pai e de uma mãe, mas a força da formação da vida se fez dentro dela*, por isso a proximidade ou distância da mãe determinam tanto na vida emocional dos filhos.

Como são as conversas imaginárias que você tem com sua mãe?

Se você imaginar sua mãe apenas diante de você, você quer proximidade e colo?

– Quais são as emoções que surgem quando você a imagina?

– Que idade ela tem nessas imagens?

Como a mãe que você tem “dentro da cabeça” olha para você e seu jeito de conduzir sua vida?

As respostas são todas suas, percepções e memórias que você filho ou filha carrega.
São as marcas que ela deixou com ou sem intenção de deixar.
Na realidade, sua mãe é muito mais do que você pensa ou lembra dela.
Tudo que ela é, mesmo não tenha consciência disso, está inconscientemente registrado em você.

Agora, neste final de semana de dias das mães, se concentre em tudo que útil que pode aproveitar que lhe veio da mãe (e os ancestrais dela).

A vida veio para você através dela.
Agradeça.

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* As mães “adotivas” receberam um filho que veio através de outra mulher, são tão importantes quanto as mães biológicas porque sustentam a vida.


Para processar estas reflexões

“Como são as conversas imaginárias que você tem com sua mãe?”
Observe a qualidade dos seus pensamentos sobre ela, que tom você internalizou dela? Como isso interfere na sua relação real com sua mãe?

“Se você imaginar sua mãe apenas diante de você, você quer proximidade e colo?” / “Quais são as emoções que surgem quando você a imagina?”
Experiências ruins podem tornar a criança resistente ao amor da mãe e muito mais difícil de “tomar a mãe no coração”. Mesmo que ela estenda os braços, é um colo difícil de tomar. Nestes casos, é a psicoterapia é indicada para tratar as marcas de apego com a mãe (ou família) e fluir na vida sem a determinação destas experiencias no futuro.

“Que idade ela tem nessas imagens?”
Esta é uma pista importante para a idade que você tem diante dela. A imaginação da mãe muito jovem indica que você também está se conectando a uma memória infantil sobre ela.

“Como a mãe que você tem “dentro da cabeça” olha para você e seu jeito de conduzir sua vida?”
Aqui está sua percepção interna de aprovação ou reprovação do olhar de sua mãe sobre você.

Gratidão


Certa vez, ao final de uma sessão, uma cliente me presenteou com um porta-óculos. Estávamos nos despedindo e ela, um pouco constrangida, me entregou o pacote. Não é tão frequente a troca de presentes entre paciente e terapeuta, ela também não sabia que meu aniversário estava chegando, nem justificou o presente pela época do Natal. Era só um presente.

Contente aceitei o pacote e o abri com uma ponta de surpresa e curiosidade: o que além do presente ela estaria me dando?

Ela sorriu e apenas disse que estava numa loja de patchwork e se lembrou de mim, que uso óculos e gosto de coisas coloridas. A reação dela me parecia dizer ainda mais que as palavras.

Nossas sessões recentes haviam tocado em assuntos difíceis, sobre o amor, relacionamentos e mágoas. Juntando estes e outros pedacinhos de nossa relação terapêutica, conclui que definitivamente não era um presente para agradar e mais que isto, era um presente para agradecer. Um gesto e algo concreto, como uma das já famosas linguagens do amor.

Fiquei muito grata pelo presente e pela gratidão dela. Me validou como pessoa e terapeuta, validou algo da troca na terapia. Me colocou a pensar sobre quantas pessoas fazem parte de nossas conquistas e ainda em quantas conquistas de outras pessoas fazemos parte. Aprendemos e ensinamos o tempo todo em nossas relações, em nosso trabalho.

A gratidão é forma de valorizar estas relações, suas trocas entre o dar e o receber. Sentir-se grato é muito mais que seguir a regra de etiqueta que papai e mamãe ensinaram. A gratidão é uma das proezas do amor.

É comum encontrar pessoas insatisfeitas, sentindo que fazem mais pelos outros do que recebem. Não sentem que seu fazer seja valorizado e se ressentem. Pois a caridade sozinha, sem gratidão é exaustiva.

Quem é grato pela vida que recebeu de seus pais com todas suas vicissitudes (tudo, sem juízo sobre bom ou ruim) é feliz. Quem é capaz de demonstrar gratidão, além de mais feliz, é alguém com boa maturidade emocional, pois consegue dar e receber amor.

Demonstrar gratidão nem sempre se faz em forma de presentes, mas em palavras de carinho e estímulo, abraços, orações, indicação de trabalho, empréstimos de livros, entre tantas outras ações que mantém uma relação positiva.

Desejo


“Desejo” em seus inúmeros significamos e aplicações é tema que passeia por toda filosofia, a arte, a psicologia.

Aiaiai, se tem algo que mobilizou a psicologia, em especial a psicanálise, é esse tal do desejo.

E como pensar em terapia de casal sem considerar tudo que o desejo mobiliza? Tudo que somos capazes de fazer, sacrificar, criar etc. em nome de nossos desejos!?!

O que é isso que pulsa em nós serehumaninhos e nos faz querer compartilhar algo da vida com alguém? (Seja só momento ou para resto da vida)

Quando um casal busca terapia pode estar com seus desejos frustrados, sufocados, confusos entre a vida conjunta e o que desejam individualmente. O desejo também pode estar alugado fora da relação.

A ajuda começa quando se olham nos olhos e reconectam ao essencial, dizendo em voz alta: “eu desejo você”.

Em muitos casos falta ao casal se comunicar sobre os desejos, sejam eles planos complexos ou simplesmente do sexo que fazem. Podem ser desejos fantasiosos ou ideias para novas ações. Se falar de desejo trava em casa, podem ir ao consultório.

Agora, pense um pouco só nesta palavra.

Desejo.

Que imagens lhe vêm à mente?

Que emoções ela evoca?

Cuidado Mútuo


As relações de casal são relações entre iguais. Nem sempre foi assim na história, mas isso não vem ao caso aqui.

Não há hierarquia, ou melhor, a visão sobre o casal em terapia é sem hierarquia entre os participantes.

Entre iguais as trocas são mútuas, os esforços equivalentes, as contribuições das diferenças são bem-vindas (ou negociáveis). Como numa dança os passos precisam ritmo, alternância, ora força, ora leveza.

No dia a dia exista uma grande rotatividade de tarefas e funções desde a organização e limpeza, ao estudo e trabalho, pagamentos e finanças, atenção à saúde e lazer.

Quando o casal não funciona numa equivalência, quando a balança de dar e tomar está tombada, o estímulo da terapia é para que se encontrem neste equilíbrio dinâmico.

Cuidado mútuo é dedicação de mostrar os sentimentos, compartilhar o que pensa e conversar sobre seus valores.

É se importar com a vida comum e interesses individuais, sem dominação ou submissão. É perguntar dos desejos, planos e sonhos, ouvir com atenção, perguntar sobre como poderiam ser realizados.

Cuidado mútuo é saber não apenas acertar no presente de aniversário, mas lembrar rotineiramente dos compromissos e gostos do outro. É ter tempo e energia também para se cuidar, relembrando o que encanta e reascende o interesse e paixão.

Como você tem cuidado de sua relação? Como tem cuidado da pessoa que ama?

 (In)Compatibilidades


Amar é comunicar as diferenças

Depois de um tempo em relação as pessoas começam a perceber incompatibilidades como se viessem do nada. Como se um dia se apercebesse que “no começo não era assim!”. E não era mesmo!  

No início se vive o encantamento da paixão, tudo é muito novo e excitante! Nesta fase da sedução, fazemos nosso melhor transparecer e deixamos nossas qualidades menos desejáveis escondidinhas.

Quando apaixonados queremos apenas o bom da relação e, assim, tudo gira em torno das compatibilidades e que se complementa positivamente, o que gosta de se ter em comum.

Ao longo do relacionamento encontramos também as partes que se conflitam. São as incompatibilidades nos hábitos, interesses, companhias. Parecem se tornar opostos. Um quer sair em alto estilo, o outro prefere assistir TV de pijama. Um é passional e energético, o outro é lógico e calmo. Um “não existe” até às 10h da manhã, o outro acorda todos os dias às 6h com o melhor humor. E tantas outras polaridades de um querer exatamente o oposto do que o outro naquele momento.

Desconfortos e conflitos nas escolhas surgem, trazendo impasses de convivência. Pode não parecer, mas estas diferenças de temperamento, hábitos e cultura não indicam que o amor vá diminuir ou acabar. Pelo contrário, são as diferenças que podem nos ensinar novas possibilidades de ser ou ver a vida.

O amor fortalece quando aceitamos por inteiro nosso(a) parceiro(a), sua história e sua origem. O sentimento de amor por si não basta para um relacionamento, é preciso encarar as incompatibilidades, mostrar o amor em ações cotidianas. A solução para gênios diferentes está na capacidade de cada um em flexibilizar. 

Alguém tem que ceder. A negociação, o movimento do amor se dão quando ambos se sentem respeitados e aceitos, também se permitem a respeitar e aceitar ao outro. Como descobrir o que é justo para que cada um ceda? Comunicando!

Muitas vezes cedemos a uma opção ou opinião sem que o outro saiba que estamos cedendo e este esforço pela relação não é reconhecido.

É preciso carinho para conversar (realmente ouvir e ser ouvido) sobre as diferenças e buscar juntos as soluções para elas. Cada qual precisa chegar até a metade do caminho para que se encontrem e tenham seu esforço recompensado. É como uma balança de dois pratos que precisa sempre voltar ao equilíbrio, senão um lado cai.

Cada casal pode inventar o seu próprio jeito de encontrar este equilíbrio, cuidando para que ninguém se sinta sobrecarregado. Este é o desafio do relacionamento: amar apesar das “melhores”
e das “piores” qualidades de seu(sua) parceiro(a).

Receptividade


Não somos seres autossuficientes. Precisamos do outro, precisamos do amor, da atenção, da presença. “Saber” ser amado é tão importante quanto amar.

Sem querer querendo encontrei de novo uma música para falar de casal, essa vez de Paralamas do Sucesso: “saber amar é deixar alguém te amar”.  (A canção fala do “amor” controlador, cruel e ciumento, o que é oposto de saber amar e da receptividade amorosa.)

Como anda sua capacidade de receber e reconhecer o amor do outro?

A receptividade amorosa faz parte da balança do dar e do tomar.

É uma ordem imponente ao relacionamento, o mantém, fortalece ou desgasta.

Na terapia familiar sistêmica esta é uma ordem conhecida e identificada pelo equilíbrio.

Se o equilíbrio falta, a raiva aparece, a proximidade pode se tornar ruim.

Quando as pessoas enrijecem numa forma de funcionar, tornam a relação toda mais rígida também. O carinho, o respeito passam a ser regulados.

Ao invés de romper a relação, acabam entrando numa dança de trocas “negativas”, onde cada um dá um pouco menos de si por despeito ou ainda se tornam pessoas mal agradecidas, sem dar valor aos esforços e carinhos.

O equilíbrio das trocas “do ruim” mantém o relacionamento cada vez mais tóxicos.

Na terapia de casal se busca realinhar esta balança.

Proximidade

(…)
Chega perto, vem sem medo
Chega mais meu coração
Vem ouvir este segredo
Escondido num choro ou canção
Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor
(…)

Os versos de “Falando de amor” de Tom Jobim sempre me deram um “quentinho” no coração. Parecem carregar aquele medo inicial do envolvimento, a promessa do amor duradouro, o desejo de proximidade que vibra com o momento que se percebe o outro encorajando a chegar junto. É uma bela e sedutora conversa.

Depois de tempos de convivência, de morar juntos, a proximidade pode não ser uma experiencia tão romântica.

Pode ser sufocante até, agora em especial pelas crises externas, como se relacionar durante a pandemia, com home office e isolamento social.

Em terapia de casal a gente avalia a qualidade da proximidade atual do casal.

Se pergunta como foi desde o começo, como evoluiu, o que se espera, como gostam de conviver.

Será que a proximidade está recompensadora (aos dois)?

Será que existe espaço para distanciar, preservar a individualidade e reaproximar?

A distância parece impor riscos ao relacionamento?

Terapia de Casal


Participar em terapia de casal parece ser algo assustador ou cansativo para muita gente. Não sei se cai numa ideia de que as sessões serão de “DRs” chatas e enfadonhas, pelas quais ainda é preciso pagar. Pior ainda se adicionar a ideia de que será um julgamento de quem está certo ou errado.

Gosto de convidar a pensar a terapia de casal como uma nova chance ao amor, um tempo especial para reconhecer o estado de saúde da proximidade, da receptividade, do cuidado mútuo e do desejo.

É uma forma de carregar junto a missão de “ajeitar a relação”, renovar a convivência, assimilar as mudanças que a vida provocou ao longo do tempo que estão juntos e se lançar ao rumo mais proveitoso.

A terapia de casal auxilia a planejar em companhia, considerando as ideias, valores e sentimentos de cada um e do que têm em comum.

Acolhe as dores e feridas que invariavelmente causamos e sofremos. Propõe organizar o caos das diferenças, inseguranças e ciúmes, provoca a estar intencionalmente presente um ao outro.

Muitos casais estão presos às narrativas de expectativas individuais (muitas vezes frustradas) e passam a se ver e agir como incompatíveis, cheios de impasses insolúveis.

Terapia de casal é um convite para reler o contrato implícito da relação e atualizar suas cláusulas, celebrando os êxitos e desafios de sua história, criando perspectivas e desenvolvendo resiliência.