Cuidado Mútuo


As relações de casal são relações entre iguais. Nem sempre foi assim na história, mas isso não vem ao caso aqui.

Não há hierarquia, ou melhor, a visão sobre o casal em terapia é sem hierarquia entre os participantes.

Entre iguais as trocas são mútuas, os esforços equivalentes, as contribuições das diferenças são bem-vindas (ou negociáveis). Como numa dança os passos precisam ritmo, alternância, ora força, ora leveza.

No dia a dia exista uma grande rotatividade de tarefas e funções desde a organização e limpeza, ao estudo e trabalho, pagamentos e finanças, atenção à saúde e lazer.

Quando o casal não funciona numa equivalência, quando a balança de dar e tomar está tombada, o estímulo da terapia é para que se encontrem neste equilíbrio dinâmico.

Cuidado mútuo é dedicação de mostrar os sentimentos, compartilhar o que pensa e conversar sobre seus valores.

É se importar com a vida comum e interesses individuais, sem dominação ou submissão. É perguntar dos desejos, planos e sonhos, ouvir com atenção, perguntar sobre como poderiam ser realizados.

Cuidado mútuo é saber não apenas acertar no presente de aniversário, mas lembrar rotineiramente dos compromissos e gostos do outro. É ter tempo e energia também para se cuidar, relembrando o que encanta e reascende o interesse e paixão.

Como você tem cuidado de sua relação? Como tem cuidado da pessoa que ama?

Receptividade


Não somos seres autossuficientes. Precisamos do outro, precisamos do amor, da atenção, da presença. “Saber” ser amado é tão importante quanto amar.

Sem querer querendo encontrei de novo uma música para falar de casal, essa vez de Paralamas do Sucesso: “saber amar é deixar alguém te amar”.  (A canção fala do “amor” controlador, cruel e ciumento, o que é oposto de saber amar e da receptividade amorosa.)

Como anda sua capacidade de receber e reconhecer o amor do outro?

A receptividade amorosa faz parte da balança do dar e do tomar.

É uma ordem imponente ao relacionamento, o mantém, fortalece ou desgasta.

Na terapia familiar sistêmica esta é uma ordem conhecida e identificada pelo equilíbrio.

Se o equilíbrio falta, a raiva aparece, a proximidade pode se tornar ruim.

Quando as pessoas enrijecem numa forma de funcionar, tornam a relação toda mais rígida também. O carinho, o respeito passam a ser regulados.

Ao invés de romper a relação, acabam entrando numa dança de trocas “negativas”, onde cada um dá um pouco menos de si por despeito ou ainda se tornam pessoas mal agradecidas, sem dar valor aos esforços e carinhos.

O equilíbrio das trocas “do ruim” mantém o relacionamento cada vez mais tóxicos.

Na terapia de casal se busca realinhar esta balança.

Proximidade

(…)
Chega perto, vem sem medo
Chega mais meu coração
Vem ouvir este segredo
Escondido num choro ou canção
Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor
(…)

Os versos de “Falando de amor” de Tom Jobim sempre me deram um “quentinho” no coração. Parecem carregar aquele medo inicial do envolvimento, a promessa do amor duradouro, o desejo de proximidade que vibra com o momento que se percebe o outro encorajando a chegar junto. É uma bela e sedutora conversa.

Depois de tempos de convivência, de morar juntos, a proximidade pode não ser uma experiencia tão romântica.

Pode ser sufocante até, agora em especial pelas crises externas, como se relacionar durante a pandemia, com home office e isolamento social.

Em terapia de casal a gente avalia a qualidade da proximidade atual do casal.

Se pergunta como foi desde o começo, como evoluiu, o que se espera, como gostam de conviver.

Será que a proximidade está recompensadora (aos dois)?

Será que existe espaço para distanciar, preservar a individualidade e reaproximar?

A distância parece impor riscos ao relacionamento?

Terapia de Casal


Participar em terapia de casal parece ser algo assustador ou cansativo para muita gente. Não sei se cai numa ideia de que as sessões serão de “DRs” chatas e enfadonhas, pelas quais ainda é preciso pagar. Pior ainda se adicionar a ideia de que será um julgamento de quem está certo ou errado.

Gosto de convidar a pensar a terapia de casal como uma nova chance ao amor, um tempo especial para reconhecer o estado de saúde da proximidade, da receptividade, do cuidado mútuo e do desejo.

É uma forma de carregar junto a missão de “ajeitar a relação”, renovar a convivência, assimilar as mudanças que a vida provocou ao longo do tempo que estão juntos e se lançar ao rumo mais proveitoso.

A terapia de casal auxilia a planejar em companhia, considerando as ideias, valores e sentimentos de cada um e do que têm em comum.

Acolhe as dores e feridas que invariavelmente causamos e sofremos. Propõe organizar o caos das diferenças, inseguranças e ciúmes, provoca a estar intencionalmente presente um ao outro.

Muitos casais estão presos às narrativas de expectativas individuais (muitas vezes frustradas) e passam a se ver e agir como incompatíveis, cheios de impasses insolúveis.

Terapia de casal é um convite para reler o contrato implícito da relação e atualizar suas cláusulas, celebrando os êxitos e desafios de sua história, criando perspectivas e desenvolvendo resiliência.